sábado, 29 de dezembro de 2012

Bendito seja Janeiro...
























ANO NOVO

Bendito seja Janeiro,
que nos dá a chance de começar           de        novo.
Dezembro é crepúsculo. Tem gosto
de coisas velhas guardadas na gaveta
com as luzinhas da árvore de natal.
Dezembro, mês de balanço,
é cansaço, desencanto.
O que não se fez. O que não se cumpriu.
O que poderia ter sido.

Mas quando Janeiro, menino,
                                                   desponta  no horizonte,
com sua roupa branca e cheiro de mar,
tudo se renova:
aquela dieta, o guarda-roupa, desencontros, amores:
tudo que havemos de ser,
ainda que não seja.
E assim, ano          a           ano,
Janeiro nos rejuvenesce,
com sua porção generosa

                            de esperança.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Nem era bela, aquela mulher...


AQUELA MULHER

Nem era bela, aquela mulher
que sabe a chuva e terra molhada.

Mas suas mãos, no entanto tão dóceis,
sabiam arar os segredos
de um chão calcinado.

Nem era bela,
mas naquele dia de sol inclemente
trouxe o frescor das chuvas de março,

e no seu corpo de primavera
trouxe o perfume que tinha guardado.

Ah, como era bela aquela mulher
que sabe a chuva e terra molhada.

Idmar Boaventura

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Perdoa o meu amor tão vacilante...



SONETO DO AMOR VACILANTE


Perdoa o meu amor tão vacilante
que é sempre um esperar, uma agonia,
infinda madrugada, nunca dia,
que faz de eternidade um breve instante.

Perdoa, pelo menos, meu silêncio,
pois que ele é todo feito de esperas:
desejo que aguarda o banimento,
inverno se fazendo primavera.

E nesse perdoar tão sem limites,
na espera de um amor tão inconstante,
enxerga, ainda mais, minha vontade

de que esse meu amar tão sem juízo
esconda, no seu gesto ruminante,
a espera mais fiel de uma saudade.

Idmar Boaventura

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O que seria do homem sem o que o define?



 
DASEIN

I
Há coisas indecifráveis, recônditos segredos.
Caminhos sem chegada, e rútilos desejos.
Há portas para o nada, verdades dissonantes.
Há formas apaixonantes do medo.

Só o homem é único, indescritível e incatalogável,
insubmisso a todas as classificações,
A toda taxonomia.
O que seria então do homem sem o que o define?